14 agosto 2007

Zoom no Siget

Mapa no Tagzania
Neste post, apresentamos um breve mapeamento feito para e sobre o Siget (Symposium on Genres Studies), o unico evento internacional dedicado aos estudos de gêneros realizado no Brasil, que começa hoje.

Trata-se de uma busca de respostas sobre: autores mais citados, gêneros mais estudados, a compreensão de gênero textual e discursivo, o modo como os gêneros jornalisticos aparecem nas pesquisas de linguistas e a formação de pesquisadores participantes.

Evento da area de letras e linguistica, o Siget (como divulgamos na epoca de incrições) vai reunir importantes pesquisadores de gêneros da atualidade, alguns dos mais lidos e citados nos trabalhos a serem apresentados. Dentre estes, estão John Swales (University of Michigan), Vijay Bhatia (City University of Hong Kong), Carolyn Miller (North Carolina State University) e Charles Bazerman (University of California), coordenador do evento juntamente com Adair Bonini (Unisul) e Débora Figueiredo (Unisul); além de Roxane Rojo (Unicamp), Désirée Motta-Roth (UFSM) e José Luis Meurer (UFSC). A quarta edição do Siget vai de 15 a 18 de agosto em Tubarão, a 133 km de Florianopolis.

O lugar dos jornalisticos

Dentre os temas mais frequentes em comunicações individuais, coordenadas e posters, figura, sem duvida, ensino-gêneros. Como explicou a Roxane Rojo, em artigo apresentado em 2000, o motivo se deve aos referenciais nacionais de ensino de linguas (chamados PCNs) que indicam os gêneros como objeto de ensino, destacando a importância de se considerar as caracteristicas dos gêneros na leitura e produção de textos ("Gêneros do Discurso e gêneros textuais: questões teoricas e praticas").

O interessante, pra nos, é observar como entram os gêneros jornalisticos nessas analises. Cerca de 20% dos trabalhos (brasileiros) operam de alguma forma com os gêneros jornalisticos, seja como instrumento para o ensino, independentemente ou como corpus para a discussão de conceitos-chave.

Isto leva a outra observação, no minimo, intrigante: tanto a primeira pagina do jornal, a capa da revista, como a noticia é considerada um gênero jornalistico. Alguns gêneros jornalisticos aparecem ora como textuais, ora como discursivos. Uma caracteristica que, alias, esta em varios gêneros.

Textuais ou discursivos

No mesmo artigo citado acima, Roxane Rojo mostra como são tênues os limites entre gênero discursivo e gênero textual, como são diluidas as fronteiras entre texto e gênero. A pesquisadora havia mapeado os autores citados para uma e outra escolha. Aqueles que trabalhavam com gênero do discurso citavam Bakhtin e seu circulo, e aqueles que falavam em gêneros textuais citavam, principalmente, Bronckart e Adam.

Depois de 10 anos (1995), esta é uma tendência que se repete nos trabalhos brasileiros do Siget, mas também que preocupa claramente os pesquisadores. Pelo menos 10 comunicações individuais questionam categorias dos mesmos autores citados acima. Um dos trabalhos discute especificamente a diferença entre gênero textual e discursivo, outro ("Editorial: um gênero textual?") questiona através da nomenclatura. Pela tabela abaixo, fica claro como as linhas entre textual e discursivo são imprceptiveis:

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Gênero de quê?

Muito interessante observar também a diversidade de produtos, composições, eventos que podem ser considerados um gênero. Um gênero discursivo pode ser, desde uma "situação de trabalho", "depoimento de orkut", a uma noticia de jornal impresso. A charge, por exemplo, é considerada como textual e como discursivo. Os gêneros jornalisticos são, em geral, considerados gêneros textuais. Dos 21 gêneros textuais, quase a metade (10) é gênero jornalistico de impressos (jornais e revistas).


Autores mais citados

Estas observações são confirmadas na comparação com os autores mais citados. Bakhtin, "o" autor dos gêneros discursivos, é o mais citado pelos brasileiros, 91 trabalhos o citam, pelo menos, uma vez. Depois vem o Marcuschi (UFPE) e o Bronckart, dos gêneros textuais, citados, respectivamente, em 41 e 37 artigos. Nenhum pesquisador estrangeiro cita nem o Marcuschi, nem o Bronckart, enquanto Bakhtin aparece em apenas 4 comunicações de pesquisadores estrangeiros.

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O motivo desta liberdade em nomenclaturas esta no que a professora Roxane Rojo ja havia explicado: o conceito de gêneros textuais de Marcuschi aproxima-o de tal forma do conceito de gêneros de Bakhtin, que, conceitualmente, não haveria diferenças de base.

"Como vemos, nessas definições, o autor ressalta que as teorias de tipos textuais estão voltadas para as estruturas e formas lingüísticas de diversos níveis e que as abordagens dos gêneros textuais os encaram como uma “forma de realizar lingüisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares”" (Rojo, artigo citado)

A conclusão deste artigo é particularmente interessante, exatamente porque a pesquisadora defende -depois de discutir, analisar e argumentar sobre as diferenças conceituais entre textuais e discursivos - que o "util e necessario", para a area, "explorar as caracteristicas das situações de enunciação". Pelas leituras de resumos e de alguns artigos, o trabalho foi levado em conta.


Mais revelador ainda é que, pelo menos, 14 textos dos que citam Marcuschi, citam também Bakhtin. Muito mais do que outros autores como Bronckart. O Bazerman é mais citado do que Bakhtin, se somamos os trabalhos brasileiros com os estrangeiros: são 35 brasileiros e 13 estrangeiros. Os numeros mais equilibrados, em se comparando artigos brasileiros e estrangeiros, estão na citação de Carolyn Miller: 6 artigos brasileiros e 5, estrangeiros.


Autores franceses, como Maingueneau e Charaudeau, conhecidos no Brasil pelo programa de Minas Gerais, aparecem em 11 e 4 artigos, respectivamente (apenas de brasileiros).

Em se tratando dos pesquisadores que participam do Siget, apenas 4, de cerca de 300 brasileiros, são da area de comunicação. Ainda que pesquisemos sobre o mesmo assunto, e que muitos dos trabalhos dos formados em letras e linguisticas tomem como corpus gêneros jornalisticos, o dialogo é ainda bastante timido.

Autores citados e estudados num programa ou numa area, não aparecem nos trabalhos das outras. O que acontece não apenas por incompatibilidades de teorias ou categorias de base, mas também pelo esqueleto individualista em que se estrutura a pesquisa brasileira. Do que fala Charaudeau, se não de "situações de enunciação", como esta la em Bakhtin?

Outra observação pouco acalentadora, é como a area de comunicação, no que trata de gêneros, é incapaz de fornecer referenciais para se trabalhar com esse corpus em outras areas. O que não quer dizer que a pesquisa não esteja avançando. Com dialogo, imagino que avançasse com outra velocidade.

Referências

Rojo, Roxane. Gêneros do Discurso e gêneros textuais: questões teoricas e praticas
, artigo apresentado em julho de 2000, por solicitação do Sub-GT da ANPOLL “Teorias de Gêneros em Práticas Sociais”, no XV Encontro Nacional da ANPOLL, sobre os principais trabalhos do Programa de Pós-Graduação (LAEL/PUC-SP).

* Ainda esta semana, divulgamos a breve enquete feita por email com alguns pesquisadores que trabalham gêneros jornalisticos independentemente.
*Os acentos, melhor, a falta de acentos é devido ao teclado francês.

3 comentários:

Unknown 19:00  

Lia, boa noite.
Interessantíssimo esse trabalho. Sou jornalista, mestre em Estudos da Linguagem/Lingüística Aplicada pela UFRN. Increvi-me e tive meu trabalho de mestrado aprovado para o Siget, mas, infelizmente, por problemas de ordem pessoal, não pude comparecer ao evento em Santa Catarina. Meu objeto de estudo é o silenciamento no texto jornalístico. Para minha pesquisa, analisei textos da cobertura da 2ª Guerra Mundial publicados no jornal "A República", em Natal. Gosatria muito de estar no Siget, compartilhando essas experiências.
Sucesso sempre!!!
Abraços,
Carmem

Unknown 06:41  

Oi Carmem, também não pude ir ao Siget (situação parecida)...interessante seu corpus...e teu referencial teorico, qual é?
obrigada pelo comentario!

alguém 15:50  

NÃO AJUDOU EM NADA KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

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